03 fevereiro, 2014

Vive la Resistance!




A vida persiste, resiste, insiste!
Não pede passagem, quiçá fica triste!
Cantando a canção, a alma em riste!
A vida que segue! A vida que existe!


08 janeiro, 2014

Pretexto




"E deste modo, insistindo em manter as despedidas em dia, galgando espaço entre as gargantas e os folhetins, tirando o sono de quem já não dorme, como um engasgo, um gole de vácuo, um resto de pele morta esquecida no fundo da banheira, eu que já não tomo café, que já não tomo remédios, não tomo vergonha, sigo a esperar, já não acordo, de acordo, sem cordas, mas sim, tudo pode ser esquecido."

03 janeiro, 2014

O Lugar do Meio



Entre meus pés
E o chão
O mar
Teus pés

Entre teus pés
Meus pés

Entre
E nunca mais saia.

26 dezembro, 2013

Outro Passo




Partir
Em marcha
Sob a perspectiva 
De um caminho
Linear
À sorte de ir e vir
Ao norte
A morte, dispensada
Navego ao gosto do vento
Equilibrando-me 

Remo

Sem rumo
Eu canto
Para o próximo
Parto


19 dezembro, 2013

Sentido Vento



gosto do aroma da comida fresca e de bons perfumes na pele
gosto de banhos: de mar, de chuveiro, de rio, de arroio, de cascata, de piscina
gosto de queijos, de vinhos e de taças
gosto de me demorar em frente a televisão fingindo que presto atenção em qualquer coisa
gosto de ver o pôr do sol sem vento, e gosto de vento nos dias nublados. Os dias de abril, principalmente
gosto de entrar no cinema, de sentar no cordão da calçada e de chimarrão em silêncio
gosto de colocar meus pés em um ângulo de  90° no colo das pessoas. Das que amo, frequentemente
gosto de ser caroneira em viagens, e de sentir o vento na palma da mão que dança fora da janela
gosto do cheiro da estrada do mar
gosto de ver o mar
gosto de pedir que me alcancem um copo d’água, e de beber água
gosto de dormir, de acordar, e de dormir novamente
gosto de abraços, gosto dos braços, gosto de afeto

eu gosto 
de ser um ser
desses que vêm a passeio
porque eu gosto mesmo
é de passear...

09 dezembro, 2013

Versos Avulsos para uma Canção Desmerecida



É como se tua presença  nunca fosse notada
Porém, tua ausência, sempre percebida

Tem dias normais, em que não há nada
Tem dias iguais, em que só há vida!

06 dezembro, 2013

Além do Pneumotórax



Um dia
Sabe-se lá como
Acordou misteriosa:
Os médicos bateram chapa
Examinaram-lhe  as têmporas
Pediram elétro...

- Pobre moça...  É um descompasso no coração!

Ela comprou um tamborim usado
E toda noite bebe um gole
Da velha cachaça de rolha
Que herdara do avô

O coração descompassado
Pelo milagre do samba
Agora está calibrado
Diz que o mistério nunca foi embora
Mas sente-se curada
Por dentro e por fora

Eis o mistério do samba!




26 novembro, 2013

La Petite Mort II

 

Let the sun make me shine
Let the moment pass me by
I'm on the way, I'm on the way
Never let me - let me die
 
 

05 novembro, 2013

Da Vida Sonhada

  
 
Eu te prometo dias repletos de poesia:
Desde a nuvem que passa,
Preguiçando nosso olhar depois do almoço
Às formigas que importunam nossa sesta
Tudo será cheio de graça, de paz e de espanto
Tal qual nossos poemas
Que serão paridos na beira do rio
 
Eu te prometo noites cheias de aromas:
Da comida fresca na mesa posta, que te espera
Do meu banho quente e demorado em flores, que te espera
Do meu hálito sereno com palavras mansas, que te espera
Do meu corpo exausto, e casto, e vasto, que te espera
Do meu sexo vivo, que te espera
O aroma da minha espera.
 
Eu te peço algo em troca:
Tua mão no meu cabelo
Teus dedos enlaçados em minhas rédeas
E isso basta.
 
O resto a gente conserta
No escrever dos dias
O resto a gente inventa
No desenrolar das noites
O resto é estrada
E a gente caminha.

31 outubro, 2013

Noite Varada


Escutávamos juntos o canto dos primeiros sabiás, noite varada, olhos exaustos, água da pena e uns bons cigarros. Aos que se entregavam ao sono, distribuíamos cobertas, colchas, travesseiros, almofadas, o que fosse. Ajeita-se qualquer pessoa quando esta dorme por cansaço físico. Tarefa mais fácil ainda quando a parada é etílica. Nenhuma alma, mesmo que perturbada, resiste ao sono do porre. Até porque, dormir é morrer um pouco, o adeus tão esperado, descansar. Mas o canto dos sabiás... Me lembrava o Tom, “vou voltar, sei que ainda vou, vou voltar para o meu lugar...”, e uma angústia absurda me rasgava, tinha a noção da fome no mundo, um saudade de casa, uma vontade de regresso. Mas pra onde eu vou voltar? Eu, que não tinha lugar. “Para onde estamos indo?”, eu indagava, com os olhos marejados. “Estamos indo sempre pra casa”, disse ele, com a voz baixa e mansa, apagando o último cigarro, bebendo o último gole d’água, e me dizendo adeus, pela última vez.

30 outubro, 2013

Meu Espelho



 
Não temo o futuro
Esconderijo secreto
Do que já está aqui
Pois no instante que virá
Nada existe se não o que não há
 
Não sofro o passado
Deixo que meus mortos
Durmam e descansem
Esqueço, no mais,
Até das flores e das pedras
 
Mas esse instante que passa
É meu martírio e meu alento
Esse é lugar onde vivo
O presente é o espelho
Do meu tempo de viver
 

15 outubro, 2013

Há vagas


 
Em dias assim, minha alma transita
entre o mundo e o mundano
entre o real e o insano
Buscando alguns sortilejos
 
E nesta esfera mitológica
Imponho minhas paixões
Empenho as ilusões
 
Às varejeiras ponteadas: a vida
Às matadeiras de combate: a morte
 
Excepciono-me: há vagas
 
 

10 outubro, 2013

Do Prazer de Primaverar-se


Desprender-se
Desaprender-se
Desapegar-se
 
Perseguir-se
Persistir-se
Permitir-se
 
Ser a folha
Ramificar-se
Ser a raiz
Florecer-se
 
 Entre os anjos
Esgueirar-se
Entre as trevas
Perceber-se
 
E depois aproveitar
E gozar
E relaxar 
 
Já chegou a primavera
Já é tempo de amar!

16 setembro, 2013

Fronteiras

 
 

A Natureza, revolta
Construindo um sorriso-ponte
Desbravando um suspiro-estrada
Um caminho etéreo
Fazendo com que meu ser
Toque o seu ser
E assim: seremos


16 agosto, 2013

Casamento

 

Um degrau
Dois corações
Três pedras de gelo

Quatro mãos
Cinco da manhã
Seis mil dólares

Sete anos de azar

 

12 agosto, 2013

Só vai quem voa

Pássaro implume

Eu tinha um jeito de andar
olhando pro chão
que se perdeu
com o passar dos anos.
 
Percebo que agora
tenho considerado 
o horizonte das gentes,
ensaiando o salto,
intencionando-o mesmo.

No mais das vezes 
tropeço, e daí  
rasgar os joelhos, 
acostumar-se à vertigem da queda, 
aprender cair:
tudo já é vôo.

E eu, de braços abertos 
e os olhos bem fechados,
no enquanto,
humildemente,
aproveito a vista.

09 agosto, 2013

Meu bem, guarde um pedaço de pão na manga do seu blusão



Naquele campo
Bordado de flores
Lugar de encontros e desencontros
Espaço de tantos desencantos
Naquele campo
Bordado de versos
Espaço de tempo, sem tempo
Espanto de tantos, no entanto
Naquele campo
Sentei-me
Contei-te versos
Bordei-te amores
E acordei
Bem na hora do café

30 julho, 2013

Cética Lágrima

 

Os olhos aprovam sobejo futuro
Sonhado, passado, o sonho despido
Não guardam rancores, sossegam de cama
Descartam amores vorazes e ambíguos
 
Os olhos merecem mais vida, mais cores
Atrasos, recortes de um corpo varão
Acordam cansados no meio da noite
Bocejam a paz dos que nunca virão
 
Meus olhos, guardados no bolso da calça
Tentando esquecer, não te ver, não sentir
Os meus outros olhos, o lar dos adeuses
Os olhos que nunca me deixam sorrir
 

06 julho, 2013

ESTRATAGEMA



Guardei uns versos no bolso,
para o caso de emergência,
e me fui.

Às vezes, escapo da morte porque sou ligeira. 
Noutras, pelo simples fato de estar em movimento.
Mas o que eu mais gosto é quando sobrevivo pelo milagre poético...

Mastigo o poema, 
ruminando um gosto de vida, 
celebrando o dado momento.


03 julho, 2013

Duas Casas

 

Na delicadeza
do encontro
há lugar
para o regozijo
 
Em casa
lugar do retorno
há mares
há morros
 
Sem anjos:
A delicadeza é um sol que me renasce.

27 junho, 2013

Uma certa noite


E mesmo que não houvesse palco, mesmo que nada fosse ensaiado, mesmo que fossem dois perdidos numa noite roubada, mesmo que todas as probabilidades apontassem na direção do não, eles diziam sim, porque era inexorável, porque era inerente à natureza dos dois, transgressores, perdidos, tolos. E mesmo assim, havia um certo sentido que não deveria estar ali.

Improvisando uma alegria que também estava ali, mas muito íntima e escondida, ela subiu num local improvável, fez dele um palco surpreendente, com seu vestido curto de menina arteira que lhe desvendava as pernas e os pés, e cantou como a diva que sempre será. Cantou manso e rouco e doce e lindo, como há muito a cidade embrutecida não ouvia um canto. E a música improvisada, quase uma outra impossibilidade, selou, enfim, o que eles tinham medo de perceber. Já não adiantava mais nada, já não existiam mais armaduras e todas as defesas, cruelmente, haviam sido superadas.

Naquela noite a cidade não percebeu que uma estrela brilhava mais que as outras. Enquanto todos dormiam, eles queriam os primeiros raios de sol da manhã que não poderia chegar. 

24 junho, 2013

Nós

 
Sobretudo
eu sinto que este nó na garganta
é um gole
um engasgo 
uma gota qualquer
de lágrima ou orvalho ou cachaça
perdida entre as cordas vocais e o peito,
em busca de um sossego largo
em busca de solidão
 
Esse nó é um soluço
um pequeno pedaço de morte
uma deixa para o adeus
um pouco do que não é nada
 
Esse nó
Sou eu

18 junho, 2013

Tic-Tac-o-tempo

 
 Conta o tempo por teus passos
Jamais através de amores
Que o relógio coração
Acelera com as dores
Ao passo que, caminhando
Tu conservas tuas cores ;)

17 junho, 2013

Meu Coração é um Cabaret Lotado

 
 
Meu coração é um cabaret lotado:  
Os aplausos são desejados
Os sorrisos são gratuitos
E o trânsito é natural e selvagem.
Pode haver amor, beleza e regozijo,
Mas ainda assim
É um velho cabaret.

07 maio, 2013

Síncope



E porque chegastes assim
De assalto, roubando-me
O pouco fôlego
Que os cigarros e as noites
de pranto me deixaram
 
E porque não me cobrastes
Nada além do ar, do mar
Do amor que pode existir
Entre dois corpos
 
E porque meus olhos
Quedaram-se mudos nos teus
E minha boca cala-se
diante de tua vontade
 
Porque reconheci em teus gestos
O mesmo desejo de viver sem dor
 
Eu, livre, vaga, leve
Deixo que o céu se imponha
 
Leva-se da vida
O que há de belo
 
Leva-se amor
Nada mais.
 

28 março, 2013

Poema a Quatro Pés*



Meus pés na areia
forjam covas miúdas
que o vento esconde
por falta de cadáveres.
 
Os pés cansados
Plantados
Não passeiam

Nos pés
Há plantas

E eu
Não tenho
Planos
 
 
*Guilherme Bica e Anne Lee Poeta

06 março, 2013

Da Contrução do Poeta


Nenhuma palavra me define
Esse vazio, nada preenche
Sigo mudando, tentando ser firme
O prazer como refúgio, ilusão perene
À contra-gosto,
Invento
Tijolo por tijolo
Assento
Em uma construção-esboço
Pelo fio que me resta ainda arde
Uma busca sincera, uma saudade
Sou escrava
de minha liberdade


28 fevereiro, 2013

Status Quo

 

Domesticar a minha angústia
a ponto de poder alimentá-la
sem que ela me morda
 
Solidificar a solidão
sensibilizar a razão e
não morrer de coração
 

21 fevereiro, 2013

Soma



Em cada gesto abjeto
Os desejos encobertos
A sestrosa negação
 
Se um dia me encontrares
Se um dia perguntares
Certamente direi não
 
Mais mil noites pra viver
As mil dores de morrer
Teu amor: a solidão

 

19 fevereiro, 2013

Deusa Coroada




 
Se a mim fosse dado o dom da palavra
Elevaria minha voz ao mais alto agudo
E gritaria a todos algo colorido e mudo
Um trânsito breve entre o ardor e a estática
 

 - Equivocam-se todos!
 
Pois que a mim me foi dado o dom do silêncio
E desperdiço-o em cada verso
Canto, pranto e nudez
Sou escrava da minha língua
 
 
 Se em mim tudo se calasse
Eu já não seria...
 

18 fevereiro, 2013

Transe Marítmo



Avançava sobre a água
Como um barco a vela
 
Suaves rajadas de vento
Agiam sobre seu destino
 
Ancorou-se em meio ao oceano
Abandonou seus deuses e mitos
 
Calmaria e fúria, em céu reflexo:
Aguardando terra firme
 

15 fevereiro, 2013

Alma em Cio

 
 
Ira, caos
Orvalho, flor
 
Pedra, espinho
Bálsamo e dor
  
O cio da alma
 
Silen-cio

14 fevereiro, 2013

Da Solidão dos Corpos

 
 
Pudera medir a distância
Entre a minha solidão e a tua
E preencher esta fenda abissal
Com o mar etéreo da paixão vivida
Nadar, de uma margem à outra
Usando o fôlego acumulado
Em tantas dores e amores
Só um suspiro e estaria lá
 
Pudera eu ignorar a solidão

13 fevereiro, 2013

Do Amar e o Misticismo

 

A brisa que toca
Teu cabelo enluarado
Avisa-me sobre
O bem e sobre o mal
Que podem brotar
Da tua boca, carne e espírito
 
Alimento-me devagar
Sorvendo cada gole como
Se fosse o último
Alimento-te de amar
Para que o bem permaneça
E o mal pereça
 
Latitude e longitude:
Teu corpo esguio
Faz frente em minhas mãos
Ser feliz é um detalhe
O importante é estarmos
Misticamente em paz.

22 janeiro, 2013

O duro Leite


A dor que paira no ar
Rompe os limítes da alma
E invade o espaço do agora

Como um guarda-chuva de chumbo
Enterra-se na brita molhada
E não deixa o passante passar

Eu, fugo no meio do nada
Refugo meus golpes sádicos
Com belas recolhidas

Há tempo pra tudo
Até para amar
entre escombros

14 dezembro, 2012

"Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa."

 


Eu
Meu medo
Animal

Entre a sombra
Entre escombros
Entre o cetro
E o centro
Entre o mar
E o manantial
Viro bicho
Tua força

Eu: meu medo
Anima
Graal

(O título é uma citação de Vinícius de Moraes em "Ausência")

30 novembro, 2012

DA LAVAÇÃO



a água
que  prepara o corpo
prepara o espírito
e a comida

na panela
a água ferve
no corpo
a água esquece
e na alma
a água vê

A água
lava
leve
e leva
dos olhos
a lágrima
teimosa

28 novembro, 2012

Ocos do Acaso



Um grito percorre o cais

Abafado entre os navios
que esperam em vão
novas partidas
adentra o oco desvio
mastigando o aço
corroído pelo tempo

Sopra um vento, momento

Os anseios partem
Os navios ficam
E meu barco
despatriado
invade as águas
em busca da noite

Ainda é cedo
para a morte
do relento...


27 novembro, 2012

Casa Abandonada




A casa abandonada carrega em si
O estigma da vitória esquecida.

Entre os cômodos
Existem velhos incômodos
Que nem uma demão de cal
E quatros punhados de sal
Hão de iludir ou refrear

Fazer silêncio na casa abandonada
É como manter
Uma faca amolada
À espreita de intrusos

E há um gemido confuso
Um suspiro, talvez
Como um nó a sussurrar

Mas uma casa abandonada
Mais do que tudo
Merece sempre uma luz acesa
Um lampião, qualquer clareza
Que possa
A qualquer tempo
Nosso retorno guiar...



22 novembro, 2012

Desinspiração

Tempos de cuidados, tempos de desinspiração... Muitas vezes eu já morri nesta vida. E em todas elas eu sobreviví!

Contra todos os males, Quintana, o Poeta:

SONETO XVII

Da vez primeira que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões de estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!

(Mário Quintana - A Rua dos Cataventos)

19 novembro, 2012

Ave-Maria Surfista



Eu não gosto de brincar na beira do mar
e acabo sempre nadando na arrebentação.

Por isso, vez que outra, volto sufocada, afogada...

As ondas quebram em meu rosto,
disfarçando as lágrimas
e abafando os gemidos chorosos
que, como uma velha canção de pescador,
teimam em arranhar meus seios
teimam em cozinhar-me

vivo em banho-maria.

Eu não gosto de brincar na beira do mar
e acabo sempre me arrebentando.

17 novembro, 2012

Da Procrastinação do Desejo



O meu desejo é como a força da manhã invadindo a madrugada
Deixando um rastro de luz e de espanto e de resistência por onde passa
Deixando os ébrios corpos à mercê da hora amanhecida
O meu desejo brinca de menina, de menino, de bandido
Não tem nada o meu desejo
Pois que gosta da verdade e escancara a voluptuosidade de cada olhar
O meu desejo morde a tua carne sem saber-se vegetal
Como um nó na garganta
O meu desejo é a salamandra que cura e fere
O meu desejo vem de longe
Muito antes do tempo de ter tempo
Vem de terras claras e mansas
Ganha corpo no teu cenho
E deságua na nascente da tua verdade
Mar infinito de desejos
Que a mim é dado com ausência de corpo, de voz e de sentido
Que a mim é dado como uma vaidade íntima e etérea
O meu desejo é o teu desejo
E moram todos
Na liberdade.

13 novembro, 2012

Insone




Há uma dança velada
Como um jogo de corpos 
Em um só corpo

Minha alma quase me escapa
Como um bicho assustado
Que necessita doma

Passo por passo
Me aproximo de mim mesma
Recorte de um tempo meu

Entre acordes da manhã
Recomeço meus compassos:
Sou minha própria bailarina


12 novembro, 2012

Arcabouço



Destilo a nicotina
entre meus dedos
tortos.

A vontade de roubar-te um beijo
é um desejo permanente,
dissimulado
entre um cigarro
e outro.

Parar de fumar agora seria o verdadeiro crime passional.

11 novembro, 2012

Canto da Sereia



Pelas margens do teu corpo
Meu abrigo em teu porto
Mansidão de véu anis

Ouvi pássaros cantarem
Vi teus pés me libertarem
De uma tarde fria e gris

Há um pouco de bondade
No coração da cidade
A canção do mar eu fiz

E no teu olhar cativo
Suportei o amor que vivo
E pensei em ser feliz