27 junho, 2013

Uma certa noite


E mesmo que não houvesse palco, mesmo que nada fosse ensaiado, mesmo que fossem dois perdidos numa noite roubada, mesmo que todas as probabilidades apontassem na direção do não, eles diziam sim, porque era inexorável, porque era inerente à natureza dos dois, transgressores, perdidos, tolos. E mesmo assim, havia um certo sentido que não deveria estar ali.

Improvisando uma alegria que também estava ali, mas muito íntima e escondida, ela subiu num local improvável, fez dele um palco surpreendente, com seu vestido curto de menina arteira que lhe desvendava as pernas e os pés, e cantou como a diva que sempre será. Cantou manso e rouco e doce e lindo, como há muito a cidade embrutecida não ouvia um canto. E a música improvisada, quase uma outra impossibilidade, selou, enfim, o que eles tinham medo de perceber. Já não adiantava mais nada, já não existiam mais armaduras e todas as defesas, cruelmente, haviam sido superadas.

Naquela noite a cidade não percebeu que uma estrela brilhava mais que as outras. Enquanto todos dormiam, eles queriam os primeiros raios de sol da manhã que não poderia chegar. 

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