Isaac acabara de cumprimentar Nara e Wagner quando Luana, segurando delicadamente seu braço esquerdo, conduziu-o até um canto da sala, a fim de que pudessem conversar a sós. Ela, com o olhar cabisbaixo, num misto de tristeza e desconforto, suplicava em silêncio para que ele a acompanhasse sem relutar. E ele, com uma paciência que só o amor confere às pessoas amantes, pediu licença aos amigos, e a seguiu, certo de se tratava de algo importante. E era mesmo:
- Vamos embora Isaac, cansei-me já.
- Mas nós acabamos de chegar, minha querida. O que houve?
- Não, vamos embora deste planeta, deste mundo, vamos embora de tudo!
Nara interrompe os dois, oferecendo uma taça de vinho a cada um.
- Ô Isaac, tão cedo e já em conferência com a Luana sobre todas as coisas! Bebam um pouco e vamos rir com os outros.
- Já vamos indo. – disse Luana, aceitando a taça num gesto simultâneo ao de Isaac.
A jovem suspirou longamente com os olhos no chão e, levandtando a cabeça, repetiu:
- Vamos embora de tudo Isaac, é sufocante demais. Olha só à minha volta, todo mundo se fazendo feliz, esperando que a gente faça as mesmas coisas de sempre, querendo rir das mesmas graças.
- Mas Luana, o que houve?
- Você não está me escutando: eu apenas quero partir, não aconteceu nada, nunca acontece. A gente é que acontece de maneira errada e se perde nesse entrevero. Sem entender bulhufas sobre tudo que há em nós e sempre fingindo que está indo bem. Todos te olham, te querem, mas não procuram te entender. E o que há em nós pra ser compreendido ou desvendado? Nem sabemos que existem verdades! E os muitos que em nós deixamos calar... E tudo o que a gente não pode fazer... Nada vai mudar Isaac, nada! É o fim!
- Minha querida... Minha Lua, vem cá...
Isaac riu, passou carinhosamente a mão nos cabelos de Luana e a abraçou, colocando a cabeça dela na altura de seu coração, como costumava fazer quando queria confortá-la. Na primeira vez em que dormiram juntos, ainda suados e confusos pelo excesso de sexo e álcool da noite, ele fez o mesmo gesto e a aconchegou cuidadosamente em seu peito. Naquela noite de inverno em que começaram a namorar, não foi o frio que a conservou na mesma posição a noite inteira, envolvida nos braços de seu amado. O que a manteve lá, quieta e tranqüila como a Lua, foi a deliciosa sensação de segurança e ternura sinceras que aqueles braços macios lhe traziam.
Agora, vivendo a mesma atmosfera mágica desse abraço que sempre a acalmava, sabia de tudo novamente. E sentindo o cheiro de Isaac lhe embriagar, escutando de perto o coração do moço a bater, ela o apertou com força, suspirou novamente e disse sorrindo, olhando-o nos olhos pela primeira vez na noite:
- Tudo bem, meu bem. Vamos abrir outra garrafa de vinho!