28 fevereiro, 2013

Status Quo

 

Domesticar a minha angústia
a ponto de poder alimentá-la
sem que ela me morda
 
Solidificar a solidão
sensibilizar a razão e
não morrer de coração
 

21 fevereiro, 2013

Soma



Em cada gesto abjeto
Os desejos encobertos
A sestrosa negação
 
Se um dia me encontrares
Se um dia perguntares
Certamente direi não
 
Mais mil noites pra viver
As mil dores de morrer
Teu amor: a solidão

 

19 fevereiro, 2013

Deusa Coroada




 
Se a mim fosse dado o dom da palavra
Elevaria minha voz ao mais alto agudo
E gritaria a todos algo colorido e mudo
Um trânsito breve entre o ardor e a estática
 

 - Equivocam-se todos!
 
Pois que a mim me foi dado o dom do silêncio
E desperdiço-o em cada verso
Canto, pranto e nudez
Sou escrava da minha língua
 
 
 Se em mim tudo se calasse
Eu já não seria...
 

18 fevereiro, 2013

Transe Marítmo



Avançava sobre a água
Como um barco a vela
 
Suaves rajadas de vento
Agiam sobre seu destino
 
Ancorou-se em meio ao oceano
Abandonou seus deuses e mitos
 
Calmaria e fúria, em céu reflexo:
Aguardando terra firme
 

15 fevereiro, 2013

Alma em Cio

 
 
Ira, caos
Orvalho, flor
 
Pedra, espinho
Bálsamo e dor
  
O cio da alma
 
Silen-cio

14 fevereiro, 2013

Da Solidão dos Corpos

 
 
Pudera medir a distância
Entre a minha solidão e a tua
E preencher esta fenda abissal
Com o mar etéreo da paixão vivida
Nadar, de uma margem à outra
Usando o fôlego acumulado
Em tantas dores e amores
Só um suspiro e estaria lá
 
Pudera eu ignorar a solidão

13 fevereiro, 2013

Do Amar e o Misticismo

 

A brisa que toca
Teu cabelo enluarado
Avisa-me sobre
O bem e sobre o mal
Que podem brotar
Da tua boca, carne e espírito
 
Alimento-me devagar
Sorvendo cada gole como
Se fosse o último
Alimento-te de amar
Para que o bem permaneça
E o mal pereça
 
Latitude e longitude:
Teu corpo esguio
Faz frente em minhas mãos
Ser feliz é um detalhe
O importante é estarmos
Misticamente em paz.

22 janeiro, 2013

O duro Leite


A dor que paira no ar
Rompe os limítes da alma
E invade o espaço do agora

Como um guarda-chuva de chumbo
Enterra-se na brita molhada
E não deixa o passante passar

Eu, fugo no meio do nada
Refugo meus golpes sádicos
Com belas recolhidas

Há tempo pra tudo
Até para amar
entre escombros

14 dezembro, 2012

"Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa."

 


Eu
Meu medo
Animal

Entre a sombra
Entre escombros
Entre o cetro
E o centro
Entre o mar
E o manantial
Viro bicho
Tua força

Eu: meu medo
Anima
Graal

(O título é uma citação de Vinícius de Moraes em "Ausência")

30 novembro, 2012

DA LAVAÇÃO



a água
que  prepara o corpo
prepara o espírito
e a comida

na panela
a água ferve
no corpo
a água esquece
e na alma
a água vê

A água
lava
leve
e leva
dos olhos
a lágrima
teimosa

28 novembro, 2012

Ocos do Acaso



Um grito percorre o cais

Abafado entre os navios
que esperam em vão
novas partidas
adentra o oco desvio
mastigando o aço
corroído pelo tempo

Sopra um vento, momento

Os anseios partem
Os navios ficam
E meu barco
despatriado
invade as águas
em busca da noite

Ainda é cedo
para a morte
do relento...


27 novembro, 2012

Casa Abandonada




A casa abandonada carrega em si
O estigma da vitória esquecida.

Entre os cômodos
Existem velhos incômodos
Que nem uma demão de cal
E quatros punhados de sal
Hão de iludir ou refrear

Fazer silêncio na casa abandonada
É como manter
Uma faca amolada
À espreita de intrusos

E há um gemido confuso
Um suspiro, talvez
Como um nó a sussurrar

Mas uma casa abandonada
Mais do que tudo
Merece sempre uma luz acesa
Um lampião, qualquer clareza
Que possa
A qualquer tempo
Nosso retorno guiar...



22 novembro, 2012

Desinspiração

Tempos de cuidados, tempos de desinspiração... Muitas vezes eu já morri nesta vida. E em todas elas eu sobreviví!

Contra todos os males, Quintana, o Poeta:

SONETO XVII

Da vez primeira que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões de estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!

(Mário Quintana - A Rua dos Cataventos)

19 novembro, 2012

Ave-Maria Surfista



Eu não gosto de brincar na beira do mar
e acabo sempre nadando na arrebentação.

Por isso, vez que outra, volto sufocada, afogada...

As ondas quebram em meu rosto,
disfarçando as lágrimas
e abafando os gemidos chorosos
que, como uma velha canção de pescador,
teimam em arranhar meus seios
teimam em cozinhar-me

vivo em banho-maria.

Eu não gosto de brincar na beira do mar
e acabo sempre me arrebentando.

17 novembro, 2012

Da Procrastinação do Desejo



O meu desejo é como a força da manhã invadindo a madrugada
Deixando um rastro de luz e de espanto e de resistência por onde passa
Deixando os ébrios corpos à mercê da hora amanhecida
O meu desejo brinca de menina, de menino, de bandido
Não tem nada o meu desejo
Pois que gosta da verdade e escancara a voluptuosidade de cada olhar
O meu desejo morde a tua carne sem saber-se vegetal
Como um nó na garganta
O meu desejo é a salamandra que cura e fere
O meu desejo vem de longe
Muito antes do tempo de ter tempo
Vem de terras claras e mansas
Ganha corpo no teu cenho
E deságua na nascente da tua verdade
Mar infinito de desejos
Que a mim é dado com ausência de corpo, de voz e de sentido
Que a mim é dado como uma vaidade íntima e etérea
O meu desejo é o teu desejo
E moram todos
Na liberdade.

13 novembro, 2012

Insone




Há uma dança velada
Como um jogo de corpos 
Em um só corpo

Minha alma quase me escapa
Como um bicho assustado
Que necessita doma

Passo por passo
Me aproximo de mim mesma
Recorte de um tempo meu

Entre acordes da manhã
Recomeço meus compassos:
Sou minha própria bailarina


12 novembro, 2012

Arcabouço



Destilo a nicotina
entre meus dedos
tortos.

A vontade de roubar-te um beijo
é um desejo permanente,
dissimulado
entre um cigarro
e outro.

Parar de fumar agora seria o verdadeiro crime passional.

11 novembro, 2012

Canto da Sereia



Pelas margens do teu corpo
Meu abrigo em teu porto
Mansidão de véu anis

Ouvi pássaros cantarem
Vi teus pés me libertarem
De uma tarde fria e gris

Há um pouco de bondade
No coração da cidade
A canção do mar eu fiz

E no teu olhar cativo
Suportei o amor que vivo
E pensei em ser feliz

06 novembro, 2012

Do Viver Sonâmbula



Sonhar com o dia em que 
acordarei no teu beijo
O absinto das palavras
Amor, fel que embriaga
Um ranger de dentes atrás da porta
O sol nasce para quem abre os olhos
E vê que não está só.

30 outubro, 2012

Remordimientos



Tenho vontade de tocar-lhe os cabelos.
Tenho um carinho de dedos guardado para esse dia...
Se não trouxer-me amor, dou-te minha língua.
Mas se o amor estiver lá, se enfim o céu da tua boca virar meu paraíso, esquece...
Pois por todos os dias morarei em teu pêlo, e vivendo-te, morrerei.
E amando-me, viverás.

Roda a viva




Por mais que eu sinta
Meus pés cansados
A dor me escapa
Enquanto espero

Porque eu caminho
A mercê do vento
Distraio minhas sandálias
E brinco com as pedras

O mundo me alcança
Em acordes maiores
Onde houver sol
Ali repouso minhas mágoas

Nem sempre a vida
é dança de roda
Mas rodar sobre a estrada
Ainda é sentir-se vivo.

26 outubro, 2012

A Poeta e o Passarinho I e II





A Poeta e o Passarinho I

-Ah! Passarinho...
Vem cantar junto do meu ninho!

-Ah! Lindo demais!
Mas se eu pousar, não canto mais...



A Poeta e o Passarinho II

Avistei as
asas de longe
Planando leve
quase a pousar
E o seu canto
triste e fagueiro:
Que tens de dor?
Que tens de dar?

De súbito
riso e compasso
Meu coração
a desejar
Venci o verbo
Ganhei poesia:
Em nosso ninho
podes voar...


24 outubro, 2012

Pedrita vai ao médico




De dois gestos
indigestos
Dança a luz
naquele bar
Tantos tempos
contratempos
Mas que viram
teu olhar
Outros olhos,
muitos olhos

teu luar...

(para Liana, no instante que passa)

17 outubro, 2012

Todo Pudor Será Castigado



Atravesso o obsceno para chegar ao teu lado
Pouso à direita, e repouso sem pressa
Há um olhar que contempla minhas asas
Há um pudor que me atira contra o galho
À guisa de poupar-me a voz

Deixo a aurora se aproximar com cuidado
Deixo que meu hálito penetre em teus hábitos
Em silêncio, apenas o arrepio dos mortais
E à luz que se aproxima, antevejo a janela
Aberta para o primeiro vôo

14 outubro, 2012

Por um gole de salmoura



Junto
Perto
Longe
Deserto
Solidão
Amor
Palavra
Gente
Cor
Deus
Mudança
Teus
Meus
Nossos
Nossas
Solidões
Solidão
Uma 
Solidão
Busca
Rua
Riso
Flor
Sol
Torpor
Emoção
Sim
Criação
Fim
Enfim
Vida

13 outubro, 2012



Assim como não sei se me queres
Assim como não sei
Assim como
Você

E depois só seremos nós
E depois só seremos
E depois

Não me peça para partir
Não me peça
Seja-me
Aqui


10 outubro, 2012

Às vezes, chovo



Os dias cinzas são

Nubladamente melancólicos



Descolorem a retina
E abrem a cortina
Para o espetáculo
Terapêutico



No palco, a dor de dentro
Sou meu próprio camarim



(tarde cinza, um soluço chora a chuva)

03 outubro, 2012

Dentro do Café Molhado



Dentro do café molhado
há um rio de lágrimas

Essa noite
Alguém pulou da ponte
Sem pagar a conta.

02 outubro, 2012

Desejo



"Passarinho nasceu pra voar. Pensamento, alento, asas de vida. Como um ninho abandonado, nossa casa, nossa lida. Como um pássaro que rompe a barreira do silêncio com seu voo. Minhas asas são palavras, e minha fala invade o nó existente entre as fronteiras de nós. O meu canto dilacera teus pulmões, desafia teus limites, e transcende o verso para nascer na poesia. Passarinho que não morre nunca: voa e sonha, liberta e crê."

26 setembro, 2012

Antes de Morrer



Antes de morrer
Eu pensava
Que os planos
Não eram só meus

Antes de morrer
Eu dormitava
E ouvia sempre
Qualquer sussurro de adeus

Antes de morrer
Eu me enganava
E acreditava
Nos olhos teus

Antes de morrer
Era antes de morrer
Agora é só ir só
Com passos ateus...

***

Depois do só
Vem o céu
Depois do céu
As estrelas
Depois das estrelas
O mar
Depois do mar
O amor
Depois do amor
Deus
E depois
Viver

***
Antes de Deus
Antes de morrer
Antes do amor
Antes de viver
Antes
Muito antes
Havia a palavra
Liberta
Em mim.



25 setembro, 2012

ma petite mort





A força abrupta dessa ânsia
Que me move
E se move em meu peito
Eu meu ventre
Em minha pele
Essa pálida sombra
Que ainda tenho
Do amar
Esse nó na garganta
E a vontade de te dizer
Tanta coisa ainda não dita
Tanto grito silenciado
Tanto riso
Podem passar
Nem o caminhão, nem o sol,
Nem o calor ou o tremor 
Das tuas mãos
Vão me impedir
De ver o céu
E morrer
Por três segundos apenas
Morrer em teus braços
E renascer na tua boca
Em cada palavra
Abrir os olhos
Pois que já és meu.


18 setembro, 2012

Noites Brancas



Ouço a tempestade gritar meu nome
E na ânsia de viver
Deixo as persianas abertas
Para que os clarões
Tragam fogos de artifício
Aos  meus sonhos
que já se avizinham

Espero que
Ao despertar
Passada a chuva
Eu possa desfrutar
Da santa ceia
Em teu seio

29 agosto, 2012

Bukowski Kiss


I'm just an old woman 
with these tired fingers
in my dirty hands
walking in this town

I'm just an old voice 
of the town
I'm the voice
and I'm the town

Don't worry about the words
words means nothing
and I am the nothing
I am the o

I'm just an old woman
In a dirty town
with my old eyes
walking in the dark

get out of my way.

19 agosto, 2012


SONETO DO AMOR À VAIDADE

Antes era o começo da mudança
Como uma chance de aprender amar
À luz da morte deixei de esperar
E fui perdendo as minhas esperanças

Mas o futuro, como a nos zombar
Pregando peça, brinca e diz que não!
Entrou de sola pelo meu portão
E em minha cama resolveu deitar

Diz que nao parte antes que eu lhe entregue
Cada palavra salgada de lágrima
Cada soluço guardado, profundo

E desde então a minha vida segue
Eu e o futuro, cheios de vaidade
Loucos de amor a devorar o mundo.

15 agosto, 2012

Deixe-me chorar a tua morte
sem silêncio ou culpa
deixe-me chorar alto
soluçar aos prantos
estou consada de misturar minhas lágrimas
com a agua do banho
eu quero senti-las em eu rosto
preciso chorar a tua morte
preciso viver a tua morte
preciso matá-lo
para sempre
deixe-me
chorar

13 agosto, 2012

Isso me dá falta de ar!


Um mergulho na solidão e você já não é o mesmo. 
Fortaleça seus pulmões, pois cada vez será necessário ir mais fundo. Até o dia em que não retornaremos à superfície.
Viver é a arte de esperar a morte sem temê-la, e aproveitar cada segundo enquanto a noite não chega, e beber cada gota de mel ofertado pela abelha rainha, e lembrar que somos feitos de carne, e sendo carne, invariavelmente feneceremos.
Um mergulho na solidão e você já não é o mesmo. Você é mais.

ÚLTIMO BEIJO

Disse-me adeus e me beijou. Na verdade parecia mais com um soluço bêbado do que um beijo, mesmo que fosse o último. Eu não conseguia nem mover as pernas, e ele já tinha atravessado a movimentada avenida. Parecia ter cronometrado o adeus e o beijo com as sinaleiras à nossa volta, só pra que eu não tivesse chance de dizer nada ou esperando que eu me atirasse por entre os carros. Eu não conseguia nem mover minhas pernas e já o imaginava com outra, no bar da faculdade, sorrindo serelepe com os colegas, como se não houvesse nada entre nós. Eu não conseguia nem mover minhas pernas e alguém já me empurrava, "com licença moça", e me dei conta de que eu tinha que tocar o dia, independente de que conseguisse ou não mover minhas pernas.
Quando cheguei em casa à noite, ele foleava uns livros, sentado no sofá. Levantou-se, e veio em minha direção com aquela seriedade que só os chatos conseguem manter em meio às tempestades. Quando parou na minha frente mirei e nem pensei. A bofetada estalou, e eu senti minha mão latejar no mesmo instante. Devia ter doído nele também, tamanha dor agora eu tinha nos dedos.
- Nunca mais me abandone daquele jeito.
E quando eu calei, o beijo não tinha mais gosto de soluço.

01 agosto, 2012

31 julho, 2012

Quando muito tempo



Quando tudo lá fora calar
Só o sopro do vento, cabelo moreno
Silêncio de dentro, desanuviar

Quando o calor dos dedos vencer
Tirar o mofo do cangote
Deixar o vaso de flores sobre a mesa

Quando acima do céu
Acima do mar, acima de tudo
O sol me aparecer de repente

Esse será o momento:
O meu momento
Doce e calmo, a seu tempo

O quando de pegar a estrada
O quando de chegar longe
O quando eu sou feliz!

(poeminha de volta às aulas...)

30 julho, 2012

Resto Manifesto




Agora ninguém vai morrer comigo
Agora a cama está vazia e meu peito
Não faz Tum, nem zum, nem nada
Agora é só a dor no meio do seio
E o soco no meio da cara
E o abismo de não querer
Agora é o só, que um dia foi sol
Agora é só dó de doer
Agora é o roer as unhas
E torcer pelo próximo.

Agora o resto é resto.

Alguém me junte, por favor.

22 junho, 2012


Enquanto o tempo
puxa meus cabelos
Percebo o vento

Não há lamento
por um momento

Por pouco, invento!

20 junho, 2012

Como se fosse calar



Ensaio a valsa para o teu retorno 
Amor, essa febre que me queima os lábios
Noturno, o suor do corpo, a guerra, a ferida

Tudo faz sombra em minha face
À noite, o canto tem gosto de lágrimas 
Esse pão amargo e sem fermento

Antes, era o beijo frio que me amolava
Hoje, eu amolo a faca que usastes
No meu coração que virou pedra

O amor, como o fio que atravessa a carne
O amor, que deixastes em coma em cima da cama
O amor, que levou meu sorriso para o fundo do rio

O peito pesa
e afasta da superfície esse cálice
de vinho tinto de sangue.


23 maio, 2012

Entre ir e vir


Ele disse chora
como quem diz ao vento
vai

E eu fui embora
Roubar uns sentimentos
ai

Esse pedaço
de aço
quem vai esculpir

Meu coração
cimento
E Deus a dirigir

Eu disse: fique
longe. Não vou
desistir

E o dia
fez-se noite
Açoite

Deixa o mundo vir.

17 maio, 2012

Janela fechada



Do lado de dentro
O caos terapêutico

Do lado de fora
Nada demais

O sol há de brilhar
sem que eu precise abrir as persianas

15 maio, 2012

De viver como autômato



    Cada lugar uma história diferente
    Cada dor, dói em lugares
    que a gente nem lembra que sente

    É duro levantar, andar, fazer coisas
    Às vezes fica difícil até respirar
    e caminhamos afogados pelas ruas

    Ninguém conhece o amor
    e passa por ele impunemente
    A vida não prega peças
    pois o palco é permanente

    Cada lugar
    uma história diferente
    e  em cada história
    uma vida. Viva!

07 maio, 2012

Por todo chorar


Choro pelo que podia ter sido, e não foi.
Choro pelos dias frios e pelas noites escuras .
Choro porque minhas mãos estão cheias de fel,
Meu rosto cheio de rugas
E meu coração cheio de pedras.
Choro, pois meus bolsos estão vazios,
e meus olhos cheios de pó. Choro.
E chorando hei de encontrar um caminho
E chorando hei de amar
Pois sou cheia de vida e de lágrimas,
E não me interessa viver uma vida sem dor.  

21 dezembro, 2011

A Janela de Jéssica



Andava inquieta.
Há algum tempo não tocava na comida
não olhava nos olhos
nem lembrava de Deus.

De vez em quando,
quando a calma vinha,
conseguia olhar o sol
através da janela.

Mas só de pensar
em voar novamente
as asas lhe doíam.

Tanto tempo na gaiola
que o que sobrou
foi só o pássaro.

Jéssica não estava mais.
Só a Janela ficou
Suspensa na parede...

25 novembro, 2011

Sorte



Tinha gosto
Tinha cheiro
Tinha um sonho bom, a palavra

Pousou no meu colo
Se aninhou
Feito ave, firme com as garras

Tinha a vida

Mas teu olhar
Teu olhar tinha tudo
E isso basta.

Nunca mais alçou vôo.

E diz-se até que, às vezes,
No escuro da noite,
Sozinho, escondido
Ele arranca algumas penas...

24 outubro, 2011

Mariposa



Minha versão de segunda talvez seja a mais nua -
Acho que vou me despindo no final de semana.
Das roupas, atiradas pela calçada
Resgato as peças que ainda me servem
E deixo os trapos pelo caminho
 
 
Ao olhar no espelho, reconheço as marcas da rua.
O cheiro do pó, a terra ainda molhada
Da chuva que não passa, aqui, dentro de mim...
Eu chovo, choro, me recomponho
E rego as flores para o próximo domingo.