Disse-me adeus e me beijou. Na verdade parecia mais com um soluço bêbado do que um beijo, mesmo que fosse o último. Eu não conseguia nem mover as pernas, e ele já tinha atravessado a movimentada avenida. Parecia ter cronometrado o adeus e o beijo com as sinaleiras à nossa volta, só pra que eu não tivesse chance de dizer nada ou esperando que eu me atirasse por entre os carros. Eu não conseguia nem mover minhas pernas e já o imaginava com outra, no bar da faculdade, sorrindo serelepe com os colegas, como se não houvesse nada entre nós. Eu não conseguia nem mover minhas pernas e alguém já me empurrava, "com licença moça", e me dei conta de que eu tinha que tocar o dia, independente de que conseguisse ou não mover minhas pernas.
Quando cheguei em casa à noite, ele foleava uns livros, sentado no sofá. Levantou-se, e veio em minha direção com aquela seriedade que só os chatos conseguem manter em meio às tempestades. Quando parou na minha frente mirei e nem pensei. A bofetada estalou, e eu senti minha mão latejar no mesmo instante. Devia ter doído nele também, tamanha dor agora eu tinha nos dedos.
- Nunca mais me abandone daquele jeito.
E quando eu calei, o beijo não tinha mais gosto de soluço.
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