14 setembro, 2016
DESEJO
Enquanto ela borda
eu ouço as estrelas:
também todas se tecem.
Também nós desenhamos
no céu, a vida.
Enquanto bordas
enquanto estrelas
enquanto vivas!
*para o dia de teus anos, minha filha. Feliz Aniversário!
12 setembro, 2016
Das Vontades (Utouchable)
De dividir
tudo contigo
De te incluir
em todas as minhas orações
De te despir
lentamente, ao som de Antonio Carlos Jobim
De te dizer palavras
todas, em desordem de tamanho, numero e grau
De te deitar entre meus seios
como camafeu, adornando o invólucro do meu coração
De te conservar
inteiro, intacto, instante, in versus
De te ser
amor, apenas.
06 setembro, 2016
Entre Pausas *ALERTA: Esse poema contém uma trilha sonora
E se o amor for desmemoriado?
Estaremos sempre buscando o caminho de casa,
adivinhando feijões deixados pelo caminho,
no eterno retorno-busca-processo...
Contando as pedras, as perdas, as bundas
Gozando as palavras
Seguindo sorrisos
Conservando
os sentidos
os abraços
os afetos
as horas
sempre as horas, Leonard.
TRILHA SONORA:
https://youtu.be/bivzkH4g1ao
28 agosto, 2016
Manifesto Latente
O poetas, os poetas mesmo
aqueles de atar no coração
eles roubam os outros poetas
e roubam das outras histórias
e roubam até de si mesmos
loucos, sábios e vorazes
sabem que pra esse tipo de pecado
o perdão já vem na gênese
que com amor e com palavra
nada é tão pecado assim
se até os beijos podem ser roubados
o que se dirá da palavra
Poetas do mundo:
Uní-vossas línguas!
Poetas do mundo:
Uní-vossas línguas!
09 agosto, 2016
SÊ
O rosto molhado
Denuncia o mistério
Lágrima ou suor
Não se sabe
O coração avisa:
Deixa cair
Virar semente
Fecundar a terra
Nas mãos do poeta
Destilar a dor
Destilar a dor
Tudo brota
Vira palavra: labor
07 abril, 2016
RECORTE
a língua mansa
avança
sem pedir licença
cada palavra
da cobra
o bote
meu recato
não resiste
teu decote
pula na nuvem
lambe o céu
roça o paraíso
a língua
viva
04 abril, 2016
PE(r)DIDO
Pudesse
Deixava ser posse
Deixava o meu fosso
Deixava de ser
Na posse, não posso
Pedido bandido
Banhado em silêncio
No amanhecer
Como não bastasse
Não fosse o destino
Pudesse, menino
Amava você!
03 agosto, 2015
22 julho, 2015
Enquanto Casa
A alma é como uma casa de madeira, que faz barulhos com as mudanças de temperatura. O importante é sempre lembrar que não são fantasmas: são os nós do tempo.
Das Águas Passadas
Nos momentos em que me desalmo, deságua em meu peito um rio nostálgico de saudades e fantasias. Alguns aromas de cânfora e mel, uns bons goles de um doze anos, alguns acordes macios que lembram navios nos dias de vento. Enfim, momentos...
Desalmar o peito, desnudar a carne, desde que eu mantenha a mim mesma no centro.
06 julho, 2015
Blues Acordes
Algumas estrelas
De tempos em tempos
Pousam, como aves
Entre meus dedos
Querendo tocar
O meu violão.
Azulam de medo
No primeiro instante...
Não morrem: eternam-se
E divam brilhantes
Dormem estrelas
Acordam canção
13 junho, 2015
22 fevereiro, 2015
26 janeiro, 2015
CATALEPSIA
amor
é gatilho
pra morte
e
pra minha
sorte
há tempos
eu faleci
nos tempos de paz
não amar
será viver
e na vida
ser
sempre
só
e
no amor
somente
ser
31 outubro, 2014
Das Vidas
"Noite de vento, noite dos mortos..."
(Érico Veríssimo)
"Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos..."
(Secos e Molhados)
Em certas épocas do ano
(Não sei se de vento ou de flores)
Alguns fantasmas aparecem
A me visitar
Com os mortos eu até converso
Sobre amores, de carinho ou gratidão
Mas com os vivos,
Faço questão de reforçar-lhes
A invisibilidade...
Alma louca
Candeia pouca
Meus vivos primeiro.
07 outubro, 2014
Baisers et des Caresses
Entre tantos olhos
Todos os olhares foram teus
E nos teus abraços
Encontrei meus braços
Engoli o adeus
Entre teus sorrisos
Prometia o dia
Na linda manhã
Calor, alegria
Eu senti na pele
Qualquer coisa vã
Entre tantos beijos, suspiros e mantras
Me perdi
Nos teus.
22 setembro, 2014
Da Fome
E se não for de dor
De se entregar
Nem tente
Que amor é
Prato que se
Come quente
Lambusando a cara
E sujando
Os dentes
Amalá dos deuses
Que se manipula
Com as mãos
E levando
À boca
Vai pela garganta
Faz caminho certo
Ao coração
Se não for de dor
De queimar os lábios
E de se entregar
Se não faz salivar
Não me apetece
Se não é amor
Esquece
Que minha fome é grande
Mas meu
Coração
Maior ainda...
02 setembro, 2014
Nothing But The Blues
Like old friends
Me and my pain
With hold hands
Again...
It's another
Ordinary story
But that's my party
There's no glory
And love was not invited...
20 agosto, 2014
Do Tempo
eu te espero entre as arvores secas do outono
e meus olhos invernam teu corpo
tu vens!
escuto de longe o farfalhar de teus passos
entre as folhas secas que descolorem o caminho
tu chegas calmo
sobejo, como uma brisa de verão
desfolha entre meus dedos
a esperança de uma primavera farta, silenciosa e feliz
amanheço, desabrochada
e já nem sei do tempo de sol ou de semente:
o tempo é de ser
13 agosto, 2014
Sala de Espera
Teu riso invade
Minha alma
Que andava
Bocejada
E o corpo agita
Como se fosse
Hora de acordar
Desperta, amor:
Despertador!
12 agosto, 2014
02 agosto, 2014
Enquanto Lágrima
Eu carrego uma saudade recém parida nos braços enquanto gasto o tempo de ser só
Tempo de não ter dó nem dor
Porque enquanto só: amor
01 julho, 2014
Poeminha pra um Dia Pequeno
O que é um pontinho de luz
em um dia cinza e pequeno?
Um poema engraçadinho
ou um copo de veneno!
Bebe do poema, boba!
Já basta a vida que mata
Bebe de pouco, devagar
Sorrindo ou chorando
Até se afogar
Bebe o poema de um gole
Que o mais
É besteira
É só acordar!
Bebe do poema bobo
Que pequeno nesse mundo
É dormir e não sonhar!
05 junho, 2014
A Hora Infame
Eis o vazio
Sem dor
Sem dó
Preenche
O espaço
Da fé
Na outra margem
Eu
Preenchendo-me
Com lápis, papel
E tesoura sem ponta
- Garçom, por favor: a conta.
11 abril, 2014
Armadilha
Meu coração
É uma casa
Sem portas
Onde só entra
Quem sabe usar
As janelas
Conservo as
venezianas
sem tramelas
Mas cuidado:
Não há
Saída de emergência
03 fevereiro, 2014
Vive la Resistance!
A vida persiste, resiste, insiste!
Não pede passagem, quiçá fica triste!
Cantando a canção, a alma em riste!
A vida que segue! A vida que existe!
08 janeiro, 2014
Pretexto
"E deste modo, insistindo em manter as despedidas em dia, galgando espaço entre as gargantas e os folhetins, tirando o sono de quem já não dorme, como um engasgo, um gole de vácuo, um resto de pele morta esquecida no fundo da banheira, eu que já não tomo café, que já não tomo remédios, não tomo vergonha, sigo a esperar, já não acordo, de acordo, sem cordas, mas sim, tudo pode ser esquecido."
03 janeiro, 2014
26 dezembro, 2013
Outro Passo
Partir
Em marcha
Sob a perspectiva
De um caminho
Linear
À sorte de ir e vir
Ao norte
A morte, dispensada
Navego ao gosto do vento
Equilibrando-me
Remo
Sem rumo
Eu canto
Para o próximo
Parto
19 dezembro, 2013
Sentido Vento
gosto do aroma da comida fresca e de bons perfumes na pele
gosto de banhos: de mar, de chuveiro, de rio, de arroio, de cascata, de
piscina
gosto de queijos, de vinhos e de taças
gosto de me demorar em frente a televisão fingindo que presto atenção em
qualquer coisa
gosto de ver o pôr do sol sem vento, e gosto de vento nos dias nublados.
Os dias de abril, principalmente
gosto de entrar no cinema, de sentar no cordão da calçada e de chimarrão em silêncio
gosto de colocar meus pés em um ângulo de 90° no colo das pessoas. Das que amo, frequentemente
gosto de ser caroneira em viagens, e de sentir o vento na palma da mão
que dança fora da janela
gosto do cheiro da estrada do mar
gosto de ver o mar
gosto de pedir que me alcancem um copo d’água, e de beber água
gosto de dormir, de acordar, e de dormir novamente
gosto de abraços, gosto dos braços, gosto de afeto
eu gosto
de ser um ser
desses que vêm a passeio
porque eu gosto mesmo
é de passear...
09 dezembro, 2013
Versos Avulsos para uma Canção Desmerecida
É como se tua presença nunca fosse notada
Porém, tua ausência, sempre percebida
Tem dias normais, em que não há nada
Tem dias iguais, em que só há vida!
06 dezembro, 2013
Além do Pneumotórax
Um dia
Sabe-se lá como
Acordou misteriosa:
Os médicos bateram chapa
Examinaram-lhe as
têmporas
Pediram elétro...
- Pobre moça... É um
descompasso no coração!
Ela comprou um tamborim usado
E toda noite bebe um gole
Da velha cachaça de rolha
Que herdara do avô
O coração descompassado
Pelo milagre do samba
Agora está calibrado
Diz que o mistério nunca foi embora
Mas sente-se curada
Por dentro e por fora
Eis o mistério do samba!
26 novembro, 2013
La Petite Mort II
Let the sun make me shine
Let the moment pass me by
I'm on the way, I'm on the way
Never let me - let me die
Let the moment pass me by
I'm on the way, I'm on the way
Never let me - let me die
05 novembro, 2013
Da Vida Sonhada
Eu te prometo dias repletos de poesia:
Desde a nuvem que passa,
Preguiçando nosso olhar depois do almoço
Às formigas que importunam nossa sesta
Tudo será cheio de graça, de paz e de espanto
Tal qual nossos poemas
Que serão paridos na beira do rio
Eu te prometo noites cheias de aromas:
Da comida fresca na mesa posta, que te espera
Do meu banho quente e demorado em flores, que te espera
Do meu hálito sereno com palavras mansas, que te espera
Do meu corpo exausto, e casto, e vasto, que te espera
Do meu sexo vivo, que te espera
O aroma da minha espera.
Eu te peço algo em troca:
Tua mão no meu cabelo
Teus dedos enlaçados em minhas rédeas
E isso basta.
O resto a gente conserta
No escrever dos dias
O resto a gente inventa
No desenrolar das noites
O resto é estrada
E a gente caminha.
31 outubro, 2013
Noite Varada
Escutávamos juntos o canto dos primeiros sabiás, noite varada, olhos exaustos, água da pena e uns bons cigarros. Aos que se entregavam ao sono, distribuíamos cobertas, colchas, travesseiros, almofadas, o que fosse. Ajeita-se qualquer pessoa quando esta dorme por cansaço físico. Tarefa mais fácil ainda quando a parada é etílica. Nenhuma alma, mesmo que perturbada, resiste ao sono do porre. Até porque, dormir é morrer um pouco, o adeus tão esperado, descansar. Mas o canto dos sabiás... Me lembrava o Tom, “vou voltar, sei que ainda vou, vou voltar para o meu lugar...”, e uma angústia absurda me rasgava, tinha a noção da fome no mundo, um saudade de casa, uma vontade de regresso. Mas pra onde eu vou voltar? Eu, que não tinha lugar. “Para onde estamos indo?”, eu indagava, com os olhos marejados. “Estamos indo sempre pra casa”, disse ele, com a voz baixa e mansa, apagando o último cigarro, bebendo o último gole d’água, e me dizendo adeus, pela última vez.
30 outubro, 2013
Meu Espelho
Não temo o futuro
Esconderijo secreto
Do que já está aqui
Pois no instante que virá
Nada existe se não o que não há
Não sofro o passado
Deixo que meus mortos
Durmam e descansem
Esqueço, no mais,
Até das flores e das pedras
Mas esse instante que passa
É meu martírio e meu alento
Esse é lugar onde vivo
O presente é o espelho
Do meu tempo de viver
15 outubro, 2013
Há vagas
Em dias assim, minha alma transita
entre o mundo e o mundano
entre o real e o insano
Buscando alguns sortilejos
E nesta esfera mitológica
Imponho minhas paixões
Empenho as ilusões
Às varejeiras ponteadas: a vida
Às matadeiras de combate: a morte
Excepciono-me: há vagas
10 outubro, 2013
Do Prazer de Primaverar-se
Desprender-se
Desaprender-se
Desapegar-se
Perseguir-se
Persistir-se
Permitir-se
Ser a folha
Ramificar-se
Ser a raiz
Florecer-se
Esgueirar-se
Entre as trevas
Perceber-se
E depois aproveitar
E gozar
E relaxar
Já chegou a primavera
Já é tempo de amar!
16 setembro, 2013
Fronteiras
A Natureza, revolta
Construindo um sorriso-ponte
Desbravando um suspiro-estrada
Um caminho etéreo
Fazendo com que meu ser
Toque o seu ser
E assim: seremos
16 agosto, 2013
Casamento
Um degrau
Dois corações
Três pedras de gelo
Quatro mãos
Cinco da manhã
Seis mil dólares
Sete anos de azar
12 agosto, 2013
Só vai quem voa
Pássaro implume
Eu tinha um jeito de andar
olhando pro chão
que se perdeu
com o passar dos anos.
Percebo que agora
tenho considerado
o horizonte das gentes,
ensaiando o salto,
intencionando-o mesmo.
No mais das vezes
tropeço, e daí
rasgar os joelhos,
acostumar-se à vertigem da queda,
aprender cair:
tudo já é vôo.
E eu, de braços abertos
e os olhos bem fechados,
no enquanto,
humildemente,
aproveito a vista.
09 agosto, 2013
Meu bem, guarde um pedaço de pão na manga do seu blusão
Naquele campo
Bordado de flores
Lugar de encontros e desencontros
Espaço de tantos desencantos
Naquele campo
Bordado de versos
Espaço de tempo, sem tempo
Espanto de tantos, no entanto
Naquele campo
Sentei-me
Contei-te versos
Bordei-te amores
E acordei
Bem na hora do café
30 julho, 2013
Cética Lágrima
Os olhos aprovam sobejo futuro
Sonhado, passado, o sonho despido
Não guardam rancores, sossegam de cama
Descartam amores vorazes e ambíguos
Os olhos merecem mais vida, mais cores
Atrasos, recortes de um corpo varão
Acordam cansados no meio da noite
Bocejam a paz dos que nunca virão
Meus olhos, guardados no bolso da calça
Tentando esquecer, não te ver, não sentir
Os meus outros olhos, o lar dos adeuses
Os olhos que nunca me deixam sorrir
06 julho, 2013
ESTRATAGEMA
Guardei uns versos no bolso,
para o caso de emergência,
e me fui.
Às vezes, escapo da morte porque sou ligeira.
Noutras, pelo simples fato de estar em movimento.
Mas o que eu mais gosto é quando sobrevivo pelo milagre poético...
Mastigo o poema,
ruminando um gosto de vida,
celebrando o dado momento.
03 julho, 2013
Duas Casas
Na delicadeza
do encontro
há lugar
para o regozijo
Em casa
lugar do retorno
há mares
há morros
Sem anjos:
A delicadeza é um sol que me renasce.
27 junho, 2013
Uma certa noite
E mesmo que não houvesse palco, mesmo que nada fosse
ensaiado, mesmo que fossem dois perdidos numa noite roubada, mesmo que todas as
probabilidades apontassem na direção do não, eles diziam sim, porque era
inexorável, porque era inerente à natureza dos dois, transgressores, perdidos,
tolos. E mesmo assim, havia um certo sentido que não deveria estar ali.
Improvisando uma alegria que também estava ali, mas muito
íntima e escondida, ela subiu num local improvável, fez dele um palco
surpreendente, com seu vestido curto de menina arteira que lhe desvendava as
pernas e os pés, e cantou como a diva que sempre será. Cantou manso e rouco e
doce e lindo, como há muito a cidade embrutecida não ouvia um canto. E a música
improvisada, quase uma outra impossibilidade, selou, enfim, o que eles tinham
medo de perceber. Já não adiantava mais nada, já não existiam mais armaduras e
todas as defesas, cruelmente, haviam sido superadas.
Naquela noite a cidade não percebeu que uma estrela brilhava
mais que as outras. Enquanto todos dormiam, eles queriam os primeiros raios de
sol da manhã que não poderia chegar.
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