22 julho, 2020

Um Pomar

"Cada fruta tem um tempo certo para amadurecer e se fazer doce e nutritiva, na medida exata para alguma fome. A fruta madura, colhida no tempo certo, e ainda fresca, na chuva, traz à boca o deleite tão desejado. Seu sumo é ácido na medida certa. Exala o perfume das memórias ancestrais. Colhida na chuva, brilha ainda mais. Macia, suculenta, cheia de cor, sabor e perfume. Assim me jogo em teus braços: fruta madura, colhida no pé, em tempo e condições propícios, um beijo doce da amora na chuva. Dentro da boca, amor e amora, que juntos dançam em harmonia vários ritmos, ora ruminoso e calmo, ora violento e rápido. Morde e depois sente o gosto, mastiga mas não engole, gozando o entre. Demoro-me entre teus dentes, sou sumo, casca, polpa e semente."

O PROBLEMA DA TUA BARBA

O problema da tua barba
É a distância
Entre ela
E minhas mãos.

18 junho, 2020

EU PROCURO ALGUÉM PARA COMPARTIR O SILÊNCIO


Eu procuro alguém para compartir o silêncio.

Eu procuro alguém para compartir?
Eu procuro alguém?
Eu procuro?
Eu?

Que silêncio?

PRIMEIRAS SAUDADES DE AMAR



Do abraço que entra por baixo da jaqueta, no inverno. Esquentar as costas na conchinha da manhã. Colocar o ouvido na boca. Esquecer que há vida lá fora. Se perder no dentro do Outro.

HABITA-SE


A esperança é a última porta aberta.

26 maio, 2020

SAL DE QUARENTENA


O choro é tanto
Que tenho até uma toalha específica para o pranto
E às vezes ainda uso o pano de prato
Quando a questão é mais urgente

28 março, 2020

EU PROCURO UM POEMA TRISTE


Eu procuro um poema triste
que fale sobre além da falta de futuro, além da falta de passado
Um poema sobre as sobras do presente

Eu procuro um poema triste
que me faça dessentir no estômago essa vertigem da queda, com palavras e gestos que nos façam arremeter

Eu procuro um poema triste
que fale sobre como esquecer o que não já não se lembra mas que vive na gente
como um beliscão atrás do esterno, no peito, em frente o coração

Eu procuro um poema triste
Um poema que chore com os dois olhos

Que seja triste
É cálido
E calmo
E quente no final

Como uma fogueira
ou uma xícara de chá.

09 março, 2020

PRELÚDIO PARA O BOM INVERNO

Quanto a ti
Queimei todos
os teus livros
Em uma única
longa noite de verão

Comendo sorvete
Em frente à lareira
Deixei arder
Folha por folha
De toda tua coleção

O vento alimenta
A chama
Fogo que inflama
Meu coração
Que não é colecionável:

Uma brasa.

09 janeiro, 2020

Duas Gotas D'Água

Ouço do firmamento um canto para o fim de tarde. Duas gotas de suor percorrem meu rosto por caminhos já percorridos, veios vários de rios infinitos. O sal das lágrimas tempera-me nas horas quentes e  as gotas fartas de suor agora me rasgam e regam em vão a pele que habito. O tempo arde e algumas rugas rejuvenescem meu corpo. Um resto infindo de sal do mar que ainda insiste do último banho. A onda, o vento, a falta de riso. O sol se põe e eu me posto verde e aberta para nosso próximo encontro. É nadar ou morrer.

Eu respiro.

27 novembro, 2019

ESTA NOITE DORMIREI COM TUA CAMISETA

.
visitou-me
na forma de um vento
uma saudade
um sopro de dor
da distância que a janela não alcança
teu corpo me esquece
incessante e calmo
o meu se aquece
te recorda
estremece
e durmo com tua camiseta
aquela
que furou na última visita.

19 outubro, 2019

O Cio da Rosa



De manhã
Como tuas pétalas
Desjejum amoroso
Acordo meu corpo com a tua carne
Dentro, em mim
Saciar a fome.

À tarde 
Te açoito meu caule 
O roçar dos espinhos
Como quem coça 
Alívio da pele
Relaxar o tônus 
Desnudar o corpo.

À noite 
Te perfumo 
Com meu hálito 
Faço do teu gozo 
Meu hábito 
E por fim te habito

Sem pétalas, sem folhas, caule ou espinhos
Somente um pedaço de terra, um aroma, uma semente perdida na aurora, à espera de germinar. 

Fazer
Brotar
Diariamente 
Todas as
Formas 
De amar
E reinventar 
A cada dia
Nosso jardim.






29 julho, 2019

PRA VIAGEM


Eu poderia passar horas, dias, anos
adjetivando a tua pessoa
E ressaltado o quanto és
atraente
envolvente
reluzente
inteligente
e sagaz
E poderia intensificar tudo
com qualificações adverbiais
de primeiríssima escala
e potencializar tudo
o que é latente
Poderia dizer que
não foi apenas o ar que me fugiu
O mar que me sorriu
O luar que se esbaldou em tua beleza luminescente
E que o simples fato
de te ver
reduz os infinitos gestos de espera
e de desejo
que eu mesma armadilho
pelo caminho
Eu poderia dizer que a idade
não é e nunca será um problema
Porque o amor não é questão de tempo
e sim de
eternidade
Poderia te dizer que da primeira vez que
repousei meu olhar em tua silhueta
foi como se eu mesma me encotrasse a mim
Porque o amor é como um desmemoriado
que em looping procura seu próprio abismo
e se depara sempre com o próprio umbigo
Eu poderia sim
e te contar tantas histórias quanto fosse possível
Como a formar em apenas uma as mil e uma noites
Realocando as dobras de meu ser em teu ser
como num jogo de quebra-cabeças
Eu poderia escrever-te as canções
Que te dediquei
na juventude
E te dedicar as canções que escreverei
em mim apenas com a pétala do teu olhar
Os melhores versos que as palavras podem gestar
Elaborar-te comícios de amor
Poderia deixar meu corpo
se emocionar
com a presença do teu corpo
Como se nunca houvesse um tempo de distância entre nós.

E no entanto
por enquanto
eu quero
apenas
um café
mas pode
ser pra viagem.

18 março, 2019

AS ILUSÕES DA FALA: DESGASTE

Essa fala excessiva
é um entrave.

A língua tropeça, cansada
entre os dentes
e não há fonemas
o suficiente...

É uma metástase de palavras
Uma grande cortina de fumaça
a disfarçar as notas claras do meu coração
Como um mágico que brinca
Com o público
E esconde o segredo na mão!

Mas no teu silêncio - amor -
Vislumbro e busco
incansável

Outros modos de usar a boca.

15 janeiro, 2019

ESCREVER PARA ESQUECER


Todos os poemas de amor
que eu não fiz pra você
serão publicados

São centenas de versos
Sobre mim e minha pele
Em outras peles
Outros corpos que não o teu

Tantos anos tentando
Te esquecer
E só o que eu consegui
Foi escrever um livro

26 outubro, 2018

SEMEADURA


A solidão tranquila da primeira lágrima
nascente de torrentes infinitas 
surge na face do poeta 
após longo período de estiagem 

Agradece com alegria a chuva 
e se joga em forma de semente 
na espera da germinação 
para o próximo poema

Plantar para colher para plantar
em ciclo infinito 
de prosa poética telúrica

Amar a terra, usar os dedos
sentir a umidade de cada verso
fecundar feliz a página em branco

29 agosto, 2018

ONDE NASCEM OS POEMAS


Ali
Entre um cotovelo e outro
Dentro do teu abraço
Na altura do teu peito 
Onde deitei meu coração 

Ali fiz um ninho poético

E todas as noites 
Antes de dormir 
Recolho versos 
Para o poema em contrução 
Da nossa vida a dois...

25 maio, 2018

POEMA PSIQUIÁTRICO

Por medidas de segurança, todos os meus poemas já nascem com problemas psiquiátricos.
O poema que não me causa estranhamento não cumpre seu papel revolucionário, no sentido de me revelar novos sentidos, sentimentos ou idéias. O poeta é um alquimista das palavras, e pode/deve usar suas essências para causar reações, ao menos neuroquímicas.

23 maio, 2018

ESQUERDA MARGINAL




Eu sou da esquerda marginal
Homem de bem: eu vos digo
Com orgulho e consciência
Que a esquerda é feita, realmente
por e para quem vive
À margem
À margem da sociedade
Fora do sistema social
E dentro do sistema prisional
Gente com fome e sem nome
Que se devora e que se consome
Eu sou da esquerda que atravessa a margem
Transita nas margens
A esquerda borderline
À margem com a crase bem cravada
Cavocada na miséria
Eu sou da esquerda marginal
Resgate: somos linha de costura
E não de arremate
Na borda é que a gente resgata
Um pouco de vida
E talvez, quem sabe um dia
Um tanto de dignidade.

08 maio, 2018

TAVA PRECISADA ERA DE MAR

Tava precisada era de mar...
Mar aberto para uns pensamentos largos
Mar manso para os sentimentos barcos
Maré baixa para regular as cheias do meu coração
Marulho nas canelas, fazendo cócegas e rimas dos meus passos em falso
E passeando, caminhar, de mar a mar
Amar o mar, no mar amar
E no silêncio:
Marejar

Tava precisada era de amar.

15 abril, 2018

AMOR SEM CARNAVAL

Ela dança toda linda e decotada
Na janela da sacaca
Esperando ele passar
No espelho vai deixando a juventude
Em cada giro uma virtude
Em cada salto um olhar...

Ela chora porque não teve coragem
De abrir uma passagem
No seu duro coração
Pra que a vida lhe trouxesse um seu amor
Sem razão e sem pudor
Ela teme uma paixão!

E eu que vejo todo dia ela passando
Como o sol, iluminando
Minha vida tão igual
Também choro por querê-la em segredo
Pois ainda tenho medo
Desse amor sem carnaval.

14 abril, 2018

DO AMOR SÓBRIO


Não serei grande amor
Posto que já esgotei minha cota de exageros
(Nesta vida)
Não serei chuva de bençãos, porque não tem plano nem promessa, mais
Não suportaria nada por ti, antes por mim, e sempre pelo mundo
Mas
Porém
Contudo
Todavia
Ainda guardo uma caixa de silêncios
Pode ser que tenha alguns sorrisos lá dentro, esquecidos junto de tantos silêncios, guardados
Pode ser, porque não há garantia
Sorrisos novos, ainda sem uso
Daí pode ser
O que tem mesmo (de sobra) é suor
Com o qual poderás salgar tua carne para conservar algumas naturezas.

07 novembro, 2017

DISPARATE




Eu, que sempre faço as perguntas erradas...
Escondo respostas ou sofro calada? 
Eu, que da vida não levo mais que a estada, 
pois leve é a alma de quem é caminhada. 
Eu que não corro, não nado, não morro, invento cilada? 
Eu mesma respondo: eu não, eu nada.

24 agosto, 2017

Canção para o Broto

Verso de amor a gente colhe direto do pé, da boca, dos olhos, das mãos, são doces e suculentos, alimentam alma e coração. Verso de amor que nasce assim da terra, sem aviso, semente em solo fértil, germinada na canção!

31 março, 2017

NO EXCUSES



to write
to love
to love a writer
to write a love
to write a love with a writer
to love my write
to love
my best writing.


22 fevereiro, 2017

TO LOVE SOMEBODY OU COMO AMAR O RIO DA IMPERMANÊNCIA



e como já não amasse mais tinha uma necessidade ainda maior de amar novamente
mas seria um erro perder a chance de seguir só em sua jornada já milenar de atravessamentos

e porque já não amava mais andava leve e sempre em busca
nunca encontrando nada que movimentasse seu interior
a carne já não tremia

e já que não faz questão de amar encontra sempre um motivo para a satisfação do prazer seguinte
mesmo sabendo que nunca será o momento seguinte até que aconteça algo
e que seja doce
voraz e impermanente

e se já não há amor como prever o momento
a dor e a demanda? 

e como não amando
não querendo
não desejando
morre a cada instante era inevitável que amasse

imensuravelmente.

13 fevereiro, 2017

Do Amor na Pós Modernidade




O amor pós moderno
Não respira
Não toca a terra
Não cria raiz
Não recicla
Não fica
Não nada
Evapora 
Entorpece
Queima
E desaparece
Descartável
Pós Líquido:
É amor volátil




29 janeiro, 2017

Dos Sonhos Inéditos



Enquanto velo teu sono
És o poema
Sem querer te adorar
Te alcanço

Tudo é vida, amor e paz
Até o próximo despertar

Enquanto velo teu sono
O amor possível
Velo
Vejo
Meu sonho

Enquanto amar

17 janeiro, 2017

A PROMESSA (Todo porto é também Mar)


Tão azul que de azul nem se lembra
mar alto, céu, centro
a vida era movimento
e cores
nunca mais

fotografo a noite
a morte de quem ama
o futuro acabado, posto, dado

Tão seu que de mim já nem se lembra
lenda, linda!
A flor da tenda
Azul


11 janeiro, 2017

08 novembro, 2016

DAS SUTILEZAS



Além do amor
a alegria também é subversiva
e te alimenta 
ao invés de te devorar

Mas para além tudo
o amor é
irresistível.

11 outubro, 2016

Para Sempre



Para o nosso mundo
Pára o mundo: nosso!
Até o dia em que seremos
Para o mundo
NÓS
E sós
Para Sempre

14 setembro, 2016

DESEJO



Enquanto ela borda
eu ouço as estrelas:
também todas se tecem. 
Também nós desenhamos 
no céu, a vida. 

Enquanto bordas
enquanto estrelas
enquanto vivas!

*para o dia de teus anos, minha filha. Feliz Aniversário!

12 setembro, 2016

Das Vontades (Utouchable)




De dividir
tudo contigo

De te incluir
em todas as minhas orações

De te despir
lentamente, ao som de Antonio Carlos Jobim

De te dizer palavras
todas, em desordem de tamanho, numero e grau

De te deitar entre meus seios
como camafeu, adornando o invólucro do meu coração

De te conservar
inteiro, intacto, instante, in versus

De te ser
amor, apenas.



06 setembro, 2016

Entre Pausas *ALERTA: Esse poema contém uma trilha sonora



E se o amor for desmemoriado?
Estaremos sempre buscando o caminho de casa,
adivinhando feijões deixados pelo caminho,
no eterno retorno-busca-processo...
Contando as pedras, as perdas, as bundas
Gozando as palavras
Seguindo sorrisos
Conservando
os sentidos
os abraços
os afetos
as horas
sempre as horas, Leonard.


TRILHA SONORA:
https://youtu.be/bivzkH4g1ao

28 agosto, 2016

Manifesto Latente



O poetas, os poetas mesmo
aqueles de atar no coração
eles roubam os outros poetas
e roubam das outras histórias
e roubam até de si mesmos
loucos, sábios e vorazes
sabem que pra esse tipo de pecado
o perdão já vem na gênese
que com amor e com palavra
nada é tão pecado assim
se até os beijos podem ser roubados
o que se dirá da palavra
Poetas do mundo:
Uní-vossas línguas!


09 agosto, 2016




O rosto molhado
Denuncia o mistério
Lágrima ou suor
Não se sabe

O coração avisa:
Deixa cair
Virar semente
Fecundar a terra

Nas mãos do poeta
Destilar a dor
Tudo brota
Vira palavra: labor

07 abril, 2016

RECORTE



a língua mansa
avança
sem pedir licença
cada palavra
da cobra
o bote
meu recato
não resiste
teu decote
pula na nuvem
lambe o céu
roça o paraíso
a língua 
viva



04 abril, 2016

PE(r)DIDO



Pudesse
Deixava ser posse
Deixava o meu fosso
Deixava de ser

Na posse, não posso
Pedido bandido
Banhado em silêncio
No amanhecer

Como não bastasse
Não fosse o destino
Pudesse, menino
Amava você!

03 agosto, 2015

22 julho, 2015

Enquanto Casa



A alma é como uma casa de madeira, que faz barulhos com as mudanças de temperatura. O importante é sempre lembrar que não são fantasmas: são os nós do tempo.

Das Águas Passadas



Nos momentos em que me desalmo, deságua em meu peito um rio nostálgico de saudades e fantasias. Alguns aromas de cânfora e mel, uns bons goles de um doze anos, alguns acordes macios que lembram navios nos dias de vento. Enfim, momentos...
Desalmar o peito, desnudar a carne, desde que eu mantenha a mim mesma no centro.

06 julho, 2015

Blues Acordes



Algumas estrelas
De tempos em tempos
Pousam, como aves
Entre meus dedos
Querendo tocar
O meu violão.

Azulam de medo
No primeiro instante...
Não morrem: eternam-se
E divam brilhantes
Dormem estrelas
Acordam canção

26 janeiro, 2015

CATALEPSIA



amor
é gatilho 
pra morte
e
pra minha 
sorte
há tempos
eu faleci
nos tempos de paz
não amar 
será viver
e na vida
ser
sempre
e
no amor
somente 
ser

31 outubro, 2014

Das Vidas




"Noite de vento, noite dos mortos..."
(Érico Veríssimo)

"Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos..."
(Secos e Molhados)

Em certas épocas do ano
(Não sei se de vento ou de flores)
Alguns fantasmas aparecem
A me visitar

Com os mortos eu até converso
Sobre amores, de carinho ou gratidão

Mas com os vivos, 
Faço questão de reforçar-lhes 
A invisibilidade...

Alma louca
Candeia pouca
Meus vivos primeiro.



07 outubro, 2014

Baisers et des Caresses


Entre tantos olhos
Todos os olhares foram teus
E nos teus abraços
Encontrei meus braços
Engoli o adeus
Entre teus sorrisos
Prometia o dia
Na linda manhã
Calor, alegria
Eu senti na pele
Qualquer coisa vã

Entre tantos beijos, suspiros e mantras
Me perdi
Nos teus.

22 setembro, 2014

Da Fome


E se não for de dor
De se entregar
Nem tente
Que amor é
Prato que se
Come quente
Lambusando a cara
E sujando
Os dentes
Amalá dos deuses
Que se manipula
Com as mãos
E levando
À boca
Vai pela garganta
Faz caminho certo
Ao coração
Se não for de dor
De queimar os lábios
E de se entregar
Se não faz salivar
Não me apetece
Se não é amor
Esquece
Que minha fome é grande
Mas meu
Coração
Maior ainda...

02 setembro, 2014

Nothing But The Blues



Like old friends
Me and my pain
With hold hands
Again...

It's another 
Ordinary story
But that's my party
There's no glory

And love was not invited...

20 agosto, 2014

Do Tempo



eu te espero entre as arvores secas do outono
e meus olhos invernam teu corpo
tu vens!
escuto de longe o farfalhar de teus passos
entre as folhas secas que descolorem o caminho
tu chegas calmo
sobejo, como uma brisa de verão
desfolha entre meus dedos
a esperança de uma primavera farta, silenciosa e feliz

amanheço, desabrochada
e já nem sei do tempo de sol ou de semente:
o tempo é de ser


13 agosto, 2014

Sala de Espera



Teu riso invade
Minha alma
Que andava
Bocejada

E o corpo agita
Como se fosse
Hora de acordar

Desperta, amor:
Despertador!

02 agosto, 2014

Enquanto Lágrima


Eu carrego uma saudade recém parida nos braços enquanto gasto o tempo de ser só
Tempo de não ter dó nem dor
Porque enquanto só: amor


01 julho, 2014

Poeminha pra um Dia Pequeno



O que é um pontinho de luz 
em um dia cinza e pequeno?
Um poema engraçadinho
ou um copo de veneno!
Bebe do poema, boba!
Já basta a vida que mata
Bebe de pouco, devagar
Sorrindo ou chorando
Até se afogar
Bebe o poema de um gole
Que o mais 
É besteira
É só acordar!
Bebe do poema bobo
Que pequeno nesse mundo
É dormir e não sonhar!


05 junho, 2014

A Hora Infame


Eis o vazio
Sem dor
Sem dó
Preenche
O espaço
Da fé

Na outra margem
Eu

Preenchendo-me
Com lápis, papel
E tesoura sem ponta
- Garçom, por favor: a conta.

11 abril, 2014

Armadilha



Meu coração
É uma casa
Sem portas
Onde só entra 
Quem sabe usar
As janelas

Conservo as 
venezianas
sem tramelas
Mas cuidado:
Não há
Saída de emergência




03 fevereiro, 2014

Vive la Resistance!




A vida persiste, resiste, insiste!
Não pede passagem, quiçá fica triste!
Cantando a canção, a alma em riste!
A vida que segue! A vida que existe!


08 janeiro, 2014

Pretexto




"E deste modo, insistindo em manter as despedidas em dia, galgando espaço entre as gargantas e os folhetins, tirando o sono de quem já não dorme, como um engasgo, um gole de vácuo, um resto de pele morta esquecida no fundo da banheira, eu que já não tomo café, que já não tomo remédios, não tomo vergonha, sigo a esperar, já não acordo, de acordo, sem cordas, mas sim, tudo pode ser esquecido."

03 janeiro, 2014

O Lugar do Meio



Entre meus pés
E o chão
O mar
Teus pés

Entre teus pés
Meus pés

Entre
E nunca mais saia.

26 dezembro, 2013

Outro Passo




Partir
Em marcha
Sob a perspectiva 
De um caminho
Linear
À sorte de ir e vir
Ao norte
A morte, dispensada
Navego ao gosto do vento
Equilibrando-me 

Remo

Sem rumo
Eu canto
Para o próximo
Parto