03 agosto, 2022

Se flor, se pássaro, se borboleta






Não fui eu quem plantou esta flor.

Quando a busquei ensejava consolar-me 

de mim, de ti, 

de nossas versões de calendário

todas já rotas, retas, sólidas. 


Nas primeiras semanas em que a cultivei 

Choveu muito

E ela se desandou em lágrimas 

E tons terrosos

e ficou azul

depois roxa

cianótica

cor de morte mesmo.


Pensei que não vingava,

mas tudo bem 

porque adubo 

também nutre.


Mas não. 


Algo desfez-se depois da chuva.

Veio brotando, desabrochando 

se refazendo mesmo 

E já nem sei mais 

Se flor

Se borboleta 

Se pássaro

Ou se somos nós.

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