21 dezembro, 2011

A Janela de Jéssica



Andava inquieta.
Há algum tempo não tocava na comida
não olhava nos olhos
nem lembrava de Deus.

De vez em quando,
quando a calma vinha,
conseguia olhar o sol
através da janela.

Mas só de pensar
em voar novamente
as asas lhe doíam.

Tanto tempo na gaiola
que o que sobrou
foi só o pássaro.

Jéssica não estava mais.
Só a Janela ficou
Suspensa na parede...

25 novembro, 2011

Sorte



Tinha gosto
Tinha cheiro
Tinha um sonho bom, a palavra

Pousou no meu colo
Se aninhou
Feito ave, firme com as garras

Tinha a vida

Mas teu olhar
Teu olhar tinha tudo
E isso basta.

Nunca mais alçou vôo.

E diz-se até que, às vezes,
No escuro da noite,
Sozinho, escondido
Ele arranca algumas penas...

24 outubro, 2011

Mariposa



Minha versão de segunda talvez seja a mais nua -
Acho que vou me despindo no final de semana.
Das roupas, atiradas pela calçada
Resgato as peças que ainda me servem
E deixo os trapos pelo caminho
 
 
Ao olhar no espelho, reconheço as marcas da rua.
O cheiro do pó, a terra ainda molhada
Da chuva que não passa, aqui, dentro de mim...
Eu chovo, choro, me recomponho
E rego as flores para o próximo domingo.

18 outubro, 2011

fino da taça



Esvaziar a cabeça das idéias
e dar espaço ao sentimento
ao cheiro do álcool
ao fino da bossa
andar de bicicleta
e pelada
e na chuva
e ganhar um beijo
molhado
roubado
trocado
um pouco estalado
pão e dor
verso de tambor
e sair por aí
a dançar
a dançar
e esquecer
apenas esquecer
que fui borboleta
neste imenso salão
fui apenas a borboleta
que você viu cair
morta
estendida no chão.


Uma taça de vinho,

chega pra lá meu bem...

01 junho, 2011

Sobre a arte do desapego



É semelhante à dor do parto

mas um pouco menos colorida

A intensidade é flutuante

O barco segue


Mas depois daquele assalto

nunca mais fui a mesma...


Fiquei um pouco bandida.

E até hoje eu guardo uma máscara debaixo do travesseiro.


18 maio, 2011

Lágrimas no meio-fio



Lágrimas no meio-fio...
Vim bater aqui
na porta da tua casa
Escondida entre as árvores
pique-esconde de verdade

Lágrimas no meio-fio...
Te espero aqui
Com a boca entre os joelhos
que já foram teus
e que já foram meus

Lágrimas no meio-fio...
Escutando os passos
Não me escondo mais
O ranger de dentes
me entrega

Há gente na rua

01 abril, 2011

Abraça-me assim, até que eu não caiba mais em mim



Ventava na varanda
e como se não houvesse música
o vento me distraía...

Dura pouco o brilho dos meus olhos.
Sem luar, sem fantasia,
onde posso me esgueirar?

Mas teu corpo, imerso em mim
Esse sim, será meu fim!
E a razão do meu cantar!

02 janeiro, 2011

Do dia em que partimos em um barquinho de papelão...



E teve aquele encontro mágico
a grande noite dos olhos coloridos
Tal qual as três Marias, éramos um e mais
simbiose dos corpos e mentes

Nem chão nem céu, não havia limítes
A água invadia nossos sentidos
Acordamos pela manhã
Em um belo submarino amarelo

Viagem longa, os pés cansados
Nosso caminhar é diferente desde então

E devolvemos ao rio todos os peixinhos dourados
que trouxemos, nos bolsos, do ládo de lá...