29 dezembro, 2010

Tem sempre um tempo inverso



Quase sempre
descobre-se um lugar
novo pra ficar,
apenas deixar-se levar

para longe
ou para dentro:
tanto faz
você conduz

o infinito é inverso
invento moda
meu tempo é curto
e infinito é o universo

10 dezembro, 2010



Depois de toda a confusão histérica
que organizou -se em volta do corpo
ninguém viu passar a mulher
ou notou que no canto dos seus olhos
não havia sinal qualquer de lagrima ou dor.

Ninguém envelhece impunemente.
O tempo é duro, e constrói secadouros invisíveis
entre nossos dedos.
É por isso que mulher não gosta de vento...

13 setembro, 2010




Soneto do só

Depois foi só. O amor era mais nada
Sentiu-se pobre e triste como Jó
Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada
Espantado, parou. Depois foi só.

Depois veio a poesia ensimesmada
Em espelhos. Sofreu de fazer dó
Viu a face do Cristo ensangüentada
Da sua, imagem – e orou. Depois foi só.

Depois veio o verão e veio o medo
Desceu de seu castelo até o rochedo
Sobre a noite e do mar lhe veio a voz

A anunciar os anjos sanguinários...
Depois cerrou os olhos solitários
E só então foi totalmente a sós.

(Vinicius de Moraes)

05 agosto, 2010



Se eu pudesse evitar essa vontade de ti.
Esse não entorpecer me enlouquece.
Se tivesse ao menos o desejo de velar-te,
mas não
Quero sempre mais e mais,
teu conforto, eu sei,
não é de verdade
É mais um colchonete que um porto
é um amanhecer sobre a cidade...

E por mais que eu te peça
que me deixes em paz
a cada olhar
eu vejo o branco dos teus olhos
eu sinto teu cheiro
e esqueço quem sou

Mas preciso andar
e saber o que alimenta minha triste poesia


Não há nada que o mundo ainda não tenha colhido em mim
Cada lágrima, cada pedra de sal
Cada esfera, glóbulo ou óvulo quem tenha brotado em minha verve
É do mundo e nele está.

Me resta agora o ver-te e esperar-te
Chegar ao leito do rio
Banhar-me em sua nudez
E rumar ao céu

Sem paradas ou pedágios
Sem prenúncios nem presságios

Apenas ver-te
E ter-te
E ser-te
Como és
e como sou.

03 agosto, 2010

do amigo




Quantas noites não dormidas
em tua compania...

Quantas noites,
tão bem vividas!

Manhã nascendo
esquece o sereno
que o bicho papão
não vem hoje não

E de dia
amor e prosa:
repatir o pão

Basta uma chamamento
de mente e coração
amigo: te escolho irmão!

(para Catiuci e Rafa, com os braços sempre abertos...)

31 julho, 2010



Cavoco no baixo ventre, equilatero coração,
um motivo para teu perdão...

Bendito é o fruto do teu ventre seco.
Amém.

27 julho, 2010

taberneiro também pensa...




"Vai saber o que se passa na cabeça dessa gente... Vivem inventando um jeito de se amar! Têm sempre um trago esperando, alguma amizade e um assunto amplo, daqueles que podem durar a
noite inteira. Cruzes! E quando começam a cantar, há um repertório infinito, cada um lembra mais canções que o outro. Mas o que passa na cabeça dessa gente, gastando todo esse tempo com teorias que não se desenvolvem, com manhãs que não acordam, e com essas noites que não têm fim? Por que não sossega um pouco, essa gente? Que mania de madrugada acesa essa...."

25 julho, 2010




pode ser que haja algo além da estrada
pode ser
mas não há de ser melhor ou maior
do que o sonho que eu carrego pelo caminho

pode ser que depois de tudo eu consiga ser mais
pode ser
mas não acredito que possa avançar tanto assim
apenas sonho e sigo

crer em mim e em meu amor
a esperança no milagre
basta estar acordado
para o sonho se realizar

13 julho, 2010




Dentro do espelho, devaneio

Atravesso

A cada linha um tropeço

Sou eu quem meço

O tempo não vê tantas linhas

Apenas se esvai

Sigo refém de meu silêncio

E à procura de meu cais...


21 junho, 2010




Estamos vagando por um infinito mar de palavras
As ondas invadem o espaço, idéias e ideais
Um mar sem contornos, sem nortes, apenas o mar

Tu estás dormindo, e eu dormente
Teu corpo é duro, como um pedaço do chão, dentro do mar ainda
Mas teu coração é como se fosse o todo, o mar, belo e infinito

Tu estás dormindo, e eu doente
Teus passos não adquirem mais a cor e o amor da noite
Mas te tenho em minhas mãos como se fosse anteontem

Eu sei que tenho que te deixar partir
Mas vive em mim
esse desejo.

Tu dormes. E eu habito a casa da tua dor, na ânsia de te viver.
Tu dormes. E eu continuo acordada, esperando
Enquanto a noite não vem.

25 maio, 2010

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade


"Tem dias que tua ausência me dói mais, e delicadamente sangro, como se buscasse esvaziar-me dessa dor. Tem dias que tua saudade é latejante, e grito silenciosamente por socorro. Eu sei que me escutas..."

13 maio, 2010


















Quando eu era criança
achava que crescer traria imensas mudanças

sonhava em ser outra
diferente...

A gente cresce:
pra cima
pros lados
pra dentro

mas é o mundo que muda

a gente permanece

30 abril, 2010

A mulher de Nietzsche




Sente nos dias frios vontade de sol
Sente nos dias de sol vontade de mar
E nos dias de mar vontade de amor

Mulher... demasiadamente mulher.

20 abril, 2010

A Estrutura Poética




O poema não tem começo nem fim
Não nasce nem morre
Não brota e tão pouco se esvai

Não há limítes:
O poema é um meio

19 abril, 2010

Desvio

Olhos abertos
Há um poema para cada mão
Olhos atentos
Pra não deixar que a coisa seja em vão
Olho pra dentro
A minha estrada está em construção

Se quiser prosseguir
Tome cuidado com sua razão
Vai tentando sorrir
Pra distrair seu pobre coração
Na hora de partir
Não tenha medo de morrer no chão
E se não conseguir
Tentar já foi sua grande lição

07 fevereiro, 2010

E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar. (Clarice Lispector)

Desde que o mundo é mundo
aprendemos a virar o mundo de ponta cabeça
para que possamos nos encaixar.
É mais fácil mudar o mundo?
É mais fácil virar o jogo?
Lembra aquele poema, acerca da vida
cheiro de sons e amores, cheio de alegria...
Desde sempre eu sou o que sou,
quero mudar, mas
{não consigo
{não preciso
{não quero
{pra quê
?????????????????????????????

Esquece o mundo
e vamos nos perder de vez em nós mesmos.