26 setembro, 2007

Inventei nosso segredo
E na nossa cabeceira
Recordei o sonho antigo
Tantas cartas redigidas
Hoje guardam nossa história
Dentro de meus velhos livros

Ainda lembro cada passo
Cada esquivo, cada canto
Cada gesto matinal
Cada cor em seu cabelo
Cada riso, cada cheiro,
Cada pedra no quintal

E no entanto nada resta
Muito pouco, só resquícios
Deste mundo abandonado
Insistentes fantasias
Que flutuam nos meus versos
De inocente desvairado

Na manhã em que partistes
No delírio de perder-te
Aceitei a solidão
Fiz meus nervos doloridos
enfeitarem-se de aço
Corroeram-se em vão

Vi chover por sete dias
E as paredes lentamente
Entregarem-se ao bolor
Vi chorar por sete noites
Como eu, cada tijolo,
Em cada espaço uma dor

Quando o sol enfim voltou
Me encontrou desavisado
Quase cega meu olhar!
E de louco, desvairado,
Me escondi entre as cobertas
Era doce o meu penar...

Mas no fim da primavera
Relutante, qual criança
Resolvi amanhecer
E por mais que tu não voltes
Meu jardim ainda precisa
De alguém pra lhe prover

Jardineiro eu vou, sem medo
Terra fértil, sol e água
Transitando entre as folhagens
Esse verde me serena
Porque em cada planta minha
Surge a tua bela imagem

E por mais triste lhe pareça
Não me impoto de encontrar
Teu sorriso em cada flor
Hoje eu vivo a compensar
Toda falta de cuidado
Que não dei ao nosso amor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belas analogias, exploradas com bastante propriedade e sutileza.
Lindo.
Bj.