25 maio, 2010

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade


"Tem dias que tua ausência me dói mais, e delicadamente sangro, como se buscasse esvaziar-me dessa dor. Tem dias que tua saudade é latejante, e grito silenciosamente por socorro. Eu sei que me escutas..."

13 maio, 2010


















Quando eu era criança
achava que crescer traria imensas mudanças

sonhava em ser outra
diferente...

A gente cresce:
pra cima
pros lados
pra dentro

mas é o mundo que muda

a gente permanece